12 de outubro de 2010

Um mea culpa pra instigar a culpa dos outros

Queria escrever sobre a recepção do dabete de ontem, mas dois emails de um grande amigo me fizeram mudar de idéia. Aproveito, então, para responder – e provocar – abertamente a Renato, que há quase dois meses, quando instigado por mim a disponibilizar neste blogue alguns dos emails que trocamos, escreveu (e peço desculpas pra postar algo privado, mas provocação é provocação):
"Ah, porque nem sei não. No emeio primeiro rola mais espaço pra delírio, o que levaria à lona a minha credibilidade em público, no blogue".
(E como a crítica que faço a Renato é a mesma que faço a mim, passo à primeira pessoa.)

Tenho um sério problema – na verdade, tenho vários, mas como já gastei fortunas de psicólogo, fico em apenas um –, o meu ego é esquizofrênico: ele é, coitado, ao mesmo tempo, inflado e  murcho. A questão é que, ambos os egos, mesmo quando um consegue prevalecer sobre o outro, acabam me levando para um mesmo lugar: o silêncio.

Me explico: quando meu ego está mais inflado, me sinto na obrigação de escrever, como Renato diz, artigos de fundo; artigos cuja capacidade seria a de ir além do rés-do-chão da política cotidiana, desvelando uma característica mais estrutural sobre o tema a que me dedico. E como, até hoje, não fui capaz de escrever nenhum artigo assim, me encolho mesmo quando me sinto intelectualmente capaz. (Quanto ao ego murcho, é mais do mesmo.)

O problema é que, com o desenrolar dos acontecimentos políticos no Brasil, me sinto na obrigação de começar a intervir. Resta saber como. Este blogue sempre foi um exércicio de escrita restrito a poucos amigos, lido por menos gente ainda. E me parece que esse não é bem o tempo de continuar a brincar de escrever.

A solução que eu pensei para poder me tornar mais atuante foi a de embarcar na onda das correntes de email. Mas, ao invés de ficar apenas repassando coisas pra cima e pra baixo, gostaria de ter um público alvo bem específico: a) a lista amigos de classe média alta de meu irmão – que, além da quantidade considerável, são, mais das vezes, conservadores e politicamente pouco atuantes –, b) a lista de emails de minha mãe – que, embora me pareça mais progressistas, pode contar ainda com uns indecisos cujo voto é importante – e, por fim, c) minha própria família – um clã onde há de tudo um pouco e muito de nada. (Não vou ser hipócrita de dizer que sou capaz de escrever para um público mais amplo, porque, ainda que quisesse, não sou. Esse é meu cadinho, e é atrás desses votos que eu pretendo ir.)

Mas, nem bem comecei, e meu ego já me boicotou. Esbocei um email cheio de razão, com números e argumentos que me pareciam incontestáveis. São os velhos resquícios da minha ilusão iluminista, a de que, com um bom texto, vou ser capaz de esclarecer a mente dos incultos e mostrar-lhes o caminho. Cada vez mais tenho pra mim que já passou da hora de descer do pedestal. O exercício, agora, não deve ser mais tão pretensioso. Tenho que abrir espaço pro meu próprio delírio, dar vazão a uma escrita menos centrada na minha vaidade de analista, mesmo que isso custe uma credibilidade que julgo ter, ainda que não saiba frente a quem.

Espero que esse post seja um primeiro passo.

Um comentário:

Fábio Casemiro disse...

Eu, particularmente, gostei muito desse texto.
A possibilidade da desrazão só te pode fazer bem e, quem sabe, tu voltes a fazer as pazes com a poesia...rs

Que bom. Há uma possibilidade nesse texto (às vezes um tanto cínica, mas tudo bem) de deixar de lado essa idolatria ao cartesiano, à verdade das luzes. Chega, não?

Há que se abrir para a trágica realidade do caos, a tal da estrela bailarina, e começar a ter claro que as coisas vem do caos e rumam para ele (menos ou mais que isso é invenção totalitária - de esquerda e de direita).

Aliás, a dor (que você afirma literária e política) vem de encontro com uma realidade muito doída: a política se tornou debate de marketeiros. A Dilma dizendo que privatiza, o Serra dizendo que preserva o bolsa família.

O pesadelo não é receber a vitória, nas urnas, do palhaço tiririca. O horror surge quando percebemos que o tiririca é a coroação de uma condição, é a apoteose extrema do símbolo: O rei está nú (ou melhor: a democracia se tornou o SPFW - "do mau gosto").

Saiba: as pessoas trocam sua liberdade pela vida boa. Liberdade é o cadáver de Robespierre: o povo quer o Consumo (Todo deus Moloch exige sacrifício!)

Bem vindo às incertezas. Bem vindo ao mundo sem sentido. Quando a vida não tem sentido, só há duas possibilidades: nos rendemos, ou criamos, nós mesmos, o nosso sentido.

Agora você escolheu: escrever! Escrever é dar sentido às coisas. É responder ao caos com forma.

Fico feliz.
Parece que as seções de "Análise de Bajé", que realizei em você, começam a surtir efeito.

Wake up,Neo.

Um beijo do seu caipira-lírico,

Fábio M. Casemiro