Há exatamente uma semana, me deparei – não sei como – com o blogue da Cleycianne. Nele dei de cara com um post intitulado “Como descobrir se seu namorado é homossexual passivo!”, no qual a blogueira comenta “as coisas que acontecem na internet com uma visão cristã”. Um dos conselhos que dá para as “mulheres angustiadas” em saber sobre as preferências sexuais dos namorados é o seguinte:
- Sabe[r] todas as coreografias da Lady Gaga, Britney Spears e Sapatonna.
A princípio, achei que era uma brincadeira. Mas, lendo os comentários, comecei a desconfiar que a coisa podia ser séria. Que havia mesmo alguém pudesse acreditar que se um cara “[g]osta de Restart e bandas coloridas”, isso seria um “sintoma” – nas palavras dela – de que ele é homossexual passivo.
Logo depois descobri que tudo não passava mesmo de uma brincadeira – um pouco apelativa demais pro meu gosto, mas nada mais do que uma brincadeira. Mas o fato dele ser ou não uma brincadeira só me importa por um determinado motivo: como eu me deixei enganar com um blogue tão claramente fake?
Essa pergunta ficou rodando na minha cabeça até que eu li um dos textos de Ann Coulter, uma das dez republicanas mais destacadas de 2010, publicado no última dia primeiro. Nela, a autora de If Democrats had any brains, they’d be Republicans, comenta, num arrazoado só, os vazamentos dos documentos secretos norte-americanos e a presão democrata pelo fim do “Don’t ask, don’t tell”, uma política que impede homossexuais assumidos de servir no exército dos EUA.
A relação entre os dois assuntos? O soldado Bradley Manning, principal suspeito de vazar os documentos para o Wikileaks é um “gay raivoso”. Conclusões grosseiras à parte, um trecho me chamou a atenção:
I'm not a military man, but I think singing along to Lady Gaga would constitute "telling" under "don't ask, don't tell."
Do you have to actually wear a dress to be captured by the Army's "don't ask, don't tell" dragnet?
É impressão minha ou Ann Coulter está insinuando que o alto escalão do exército americano deveria ler o blogue da Catylenne para saber identificar – e expulsar – os soldados homossexuais, um perigo para as forças armadas e para a segurança nacional?
What constitutes being "openly" gay now? Bringing a spice rack to basic training? Attending morning drills decked out as a Cher impersonator? Following Anderson Cooper on Twitter?
Also, U.S. military, have you seen a picture of Bradley Manning? The photo I've seen is only from the waist up, but you get the feeling that he's wearing butt-less chaps underneath. He looks like a guy in a soldier costume at the Greenwich Village Halloween parade.
É triste, mas Ann Coulter me ajuda na minha auto-defesa: eu não percebi que o blogue da Catylenne era uma brincadeira, porque, por mais que se force a mão, nenhum absurdo parece mais poder ocupar o lugar necessário para a construção do riso. Há um certo discurso conservador, com grande aceitação popular, que já tomou conta daquele espaço. E o que é mais perigoso: ele não está para brincadeira.
2 comentários:
Catylenne ou Gleycianne? Olha o ato falho, meu velho...
Katylene.
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