20 de outubro de 2010

Resposta a Pogrinho (parte 1 de 3)

Pois bem, começo agora uma série de três respostas – acho que são três mesmo, se for menos ou mais, mudo o título depois – que fiquei devendo a um grande amigo, Paulo Henrique Gomez, o homem que gostaria de ser chamado de “El Pogre”, mas que é conhecido em alguns pubs da Bela Vista por Paulo G.

Publico primeiro o email dele, que já não era tão particular mesmo – isso sem contar que, como bom leftista, ando violando a torto e a direito a correspondência sigilosa dos amigos –, e, como diria o mestre Reinaldo Azevedo, volto em seguida.

Email de 27 de setembro de 2010:

Concordo em princípio com o que você diz. Acho sim que a imprensa no Brasil é hipersensível, em parte por razões históricas (a memória da ditadura ainda é recente) e em parte porque é conveniente ser hipersensível (permite esconder partidarismos e fraudes intelectuais sob o manto da liberdade de imprensa).

O problema é que essa hipersensibilidade não tira o caráter absurdo de um manifesto genérico contra a "imprensa golpista" que está "castrando o voto popular". Acho totalmente razoável e, mais que isso, desejável críticas concretas a cada nota da imprensa que a pessoa, grupo ou partido julgue ofensivo, tendencioso, mentiroso etc. Exemplos não faltam. Dá pra processar a Veja toda semana.

O problema é a atitude típica de generalização e abstração de conteúdo. Exatamente o que foi feito pelos grupos que organizaram a passeata e o que vem sendo feito reiteradas vezes pelo Lula. Essa crítica genérica e abstrata à imprensa, principalmente quando vem de autoridade que tem o poder de delimitar a liberdade de imprensa, é um flerte perigosíssimo com o autoritarismo. E exemplos também não faltam. Ou vc não lembra da escalada de critícas genéricas à imprensa na Venezuela? Ou vc acha que lá é um país democrático e acha razoável e/ou coincidência fecharem todos os grandes veículos de mídia que não eram alinhados ao Governo Central? Aquela imprensa golpista!

Essa crítica genérica, abstrata, só pode ter duas explicações, ao meu ver: ou é frouxidão (medo de sofrer processo pela crítica que está fazendo àquele veículo determinado, o que já põe em dúvida a própria certeza de quem está criticando), ou é ação pensada pra descredenciar ou, em última instância, silenciar quem tem opinião diferente.

Esse ato e as palavras do Lula são muito mais severos, mais socialmente danosos, que qualquer dos comentários que vc transcreveu (mesmo o do Reinaldo Azevedo, que eu considero uma besta enfurecida). Quando o Presidente fala que "é um absurdo que alguns jornalistas falam e isso precisa ser controlado" ele está pavimentando o caminho para controle de opinião, ideia que ele já manifestou e defendeu mais de uma vez no passado. Quando um ex-presidente, que não está em campanha, que teve uma atitude de mínima interferência quando estava no poder e seu sucessor concorria, critica o presidente atual que tem um nível de interferência absurdo (ou vc não concorda que o Lula está escancaradamente fazendo campanha pra Dilma há uns seis meses, pelo menos) diz que o uso da máquina e da sua popularidade para eleger o sucessor, com poderes para esmagar o concorrente, é autoritarismo, isso é crítica a um comportamento determinado, não um atentado a uma instituição democrática.

Não concordo com a hipersensibilidade da imprensa, mas que está claro o interesse do grupo que hoje está no poder de eliminar fontes de crítica (que quando eu era mais novo aprendi isso como autoritarismo), pra mim está.

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