21 de outubro de 2010

Resposta a Ricardo Lins Horta

Vou postar agora o último email que eu enviei pra Rodrigo (estranhamente sem ofensas pessoais). Achei o título que eu dei pretensioso, porque embora esteja comentando um artigo dele muito bem fundamentado, minha ideia não é esgotar o assunto (por falta de tempo e falta de conhecimento). São apenas minhas opiniões sobre o texto.

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Discordo de um monte de coisa escrita no artigo. Infelizmente agora não consigo acessar todos os links, mas minha impressão geral é:

O tópico 1 (aparelhamento do estado) soou coerente (e contrário a uma ideia firmada que eu sempre tive). Teria que avaliar os dados e gostaria de ouvir alguém de opinião contrária que pudesse argumentar mais solidamente do que eu posso, já que não conheço os meandros desse tipo de informação.

Os tópicos 2 (combate a corrupção), 3 (política econômica) e 4 (instituições democráticas) estão bem deturpados.

Em geral atribuem ao governo do PT méritos que não são do governo do PT, como a limpa interna da PF, já que as operações de investigação interna e a mudança de postura começaram na era FHC. Aliás, os petistas durante muito tempo diziam que a "PF é tucana" coisa que sempre achei um absurdo (eu pensava "os caras perseguem criminosos e o PT diz que são tucanos, isso é quase como dizer q seu adversário é honesto e vc não, isso não faz sentido"). Outro exemplo, o decreto contra o nepostismo do governo federal que ele aponta como sendo uma iniciativa do governo do PT contra a corrupção. Esse decreto é de junho de 2010!!! Ou seja, veio bem depois de o STF, que nada tem a ver com o governo, ter afirmado categoricamente que o nepotismo é vedado em todos os poderes (e teve aquela brigaiada no senado e o Lula vergonhosamente curvou-se ao PMDB apoiando o Sarney no escândalo do nepotismo).

No tópico 2 ele só tem razão ao afirmar que é muito difícil medir corrupção. Eu juro que concordo com a afirmação de que houve menos corrupção no governo Lula do que no governo FHC, mas não atribuo isso ao governo do PT, ao contrário, acho que houve menos corrupção apesar do governo do PT. E digo apesar porque o PT, em todos os escândalos de corrupção que pipocaram perigosamente perto do palácio do planalto, adotou estratégia de negar a existência ou negar conhecimento. Manter a imagem (ainda que acobertando caras pegos em flagrante) sempre foi mais importante que investigar e punir. Atribuo a diminuição da corrupção a um amadurecimento da sociedade brasileira, apesar da postura do presidente que sempre fez pouco caso pra isso.

No tópico 3 ele também deturpa as coisas. Usa um argumento meio infantil de que "nem sempre foi assim no governo FHC", ok, é verdade, mas o tripé econômico do segundo mandato o que foi? Os fundamentos econômicos do segundo mandato FHC que ele aponta foram integralmente mantidos na era Lula. São os mesmos fundamentos. As demais ações, que o PT tem mérito sim por ter conduzido, são ajustes finos. Expansão de crédito, aumento de reserva, taxa de crescimento maiores e criação de emprego são consequências dessa política econômica, não medidas que foram tomadas pelo governo Lula e não foram tomadas pelo governo FHC. No esforço de dizer que a política econômica do Lula não é uma continuidade do governo FHC (argumento bobo, na minha opinião, pois em política o importante é a implementação, não a autoria das ideias) ele acaba se encurralando sozinho e deixa evidente que é verdade que a política econômica do Lula foi continuidade da política do econômica do FHC (mérito de ambos).

No tópico 4 ele "esqueceu" das interferências do governo nas agências reguladoras. É inócuo defender que o governo Lula não é uma ditadura. Não é, evidentemente, nem conseguiria ser (acho, espero). O que se tem que analisar é a postura do governo em temas polêmicos, tanto objetivamente, quanto a postura adotada. E o que me incomoda no governo Lula e muito mais na Dilma (e no Serra também) é a postura, a arrogância de acharem que o Estado deve não só regular os mais variados temas, mas que eles são mais capacitados para decidir qualquer coisa. O governo Lula reiteradamente usou a máquina pública para imiscuir-se em decisões totalmente privadas. Os grandes fundos de pensão são geridos politicamente (com p minúsculo), os caras interferem no comando de empresas privadas importantes (a ingerência na presidência da Vale foi foda). A política de empréstimo do BNDES evidencia decisões pouco consistentes (frigoríficos gigantes, oligopolistas, que estavam quebrados, receberam uma enxurrada de grana do BNDES, enquanto vários menores não conseguem se alavancar). E o maior escândalo do governo Lula, na minha opinião, foi o caso da Br-Oi, na qual mudaram a legislação, interferiram em agência reguladora (tiraram conselheiro que já tinha manifestado opinião contrária e botaram outros pra votar como eles queriam), deram um caminhão de dinheiro subsidiado, tudo sob a pueril justificativa de "criar uma supertele de capital nacional". O que eles fizerma foi enriquecer muito alguns poucos amigos próximos. Nem a justificativa da supertele nacional se sustenta mais, já que a empresa foi vendida pra invetidor estrangeiro (o que era totalmente previsível à época). Considero esse o maior escândalo não sob o aspecto estritamente moral (dinheiro na cueca é muito mais emblemático e divertido), mas porque houve um ataque institucional, oficial, a instituições democráticas. E o pior, tudo evidente, todo mundo sabia que era pra beneficiar um pequeno grupo e ficou por isso mesmo.

Esse é, sem dúvida, o ponto mais subjetivo e o ponto que eu mais tenho reservas em relação aos nossos candidatos. E falo no plural porque o perfil do Serra é bem parecido nesse aspecto. Não me sinto minimamente representado por nenhum dos dois.

No tópico 5, infelizmente, tenho que concordar com o texto. A campanha de Serra está sendo baixa (vergonha alheia pela bolinha de papel) e, ainda que se possa atribuir parte do terrorismo a terceiros, sem dúvida ele está alimentando isso e se aproximando dos setores mais conservadores da sociedade. Se a Dilma assumisse o que pensa e adotasse claramente a bandeira liberal, com todas as reservas que tenho pra ela, ela teria meu voto. Só que ao invés de defender seus ideais, o que ela faz? Assina a tal da carta retrógrada (que confesso não ter lido). Mais um motivo para não me sentir representado por esses candidatos que estão ai.

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