20 de setembro de 2010

Caetano e a extirpação do DEM

Muitos, entre eles Caetano Veloso, criticaram declaração recente de Lula de que o DEM deveria ser extirpado (pra quem não leu, segue abaixo o artigo em que Caetano reafirma declaração feita a uma rádio de Santo Amaro).
Pra mim Lula falou isso do DEM porque queria provocar os adversários a atacá-lo, o que nesse eleição é garantia certa de esparro, até em SC. A mesma coisa ele fez com ACM na eleição passada, chamando-o de ratazana - e aliás o expediente funcionou maravilhas, e Wagner ganhou quando ninguém acreditava nisso. 
Eu não vejo nada na história de Lula que indique a vontade de extirpar outras forças políticas. Nem antes nem durante a presidência. Isso eu já vi na história do DEM e de seus antepassados (por exemplo, na Bahia).
Tirando que tenho minhas dúvidas se a vontade de extirpar o adversário, desde que isso seja feito nas urnas, não faz parte do DNA de qualquer partido político real numa democracia.
E tenho dúvidas também sobre se ainda é preciso extirpar o DEM, ou se isso já não foi feito.
Tá, Lula é presidente, e aí mais que nunca falar é fazer. Uma declaração isolada, mesmo nesse caso, é mais ilustrativa que a trajetória política como um todo? Vale sempre lembrar de que lado dos cassetetes cada uma estava na época da ditadura, pra ficar num tipo de repressão policial até leve pros padrões da época.
E campanha é campanha. Ainda mais contra os Bornhausen, que falaram em varrer a raça dos petistas há algum tempo, e agora responderam assim:
"Para pronunciar o nome dos Bornhausen dentro de Santa Catarina, Lula tem que estar são e lavar a boca antes".
"— Aconselho o presidente a não faltar com a verdade, não inaugurar obras inacabadas, respeitar as famílias catarinenses e não ingerir bebidas alcoólicas antes dos comícios."
Quanto ao princípio "tratar com educação aquele que te trata com educação", Celso de Barros saiu-se com a seguinte pérola, quanto à sua relação com Reinaldo Azevedo:
O cara ofende quem quer, patrulha os outros jornalistas (como no caso recente da Lucia Hippolito), chama a Marilena Chauí de tati Quebra-Barraco,  e vive, fundamentalmente, disso: alguém é capaz de citar uma idéia que Reinaldo Azevedo já tenha tido na vida, fora “Mendonça, tô com o projeto de uma revista aqui que vai dar o maior lucro!”?
Depois de anos fazendo isso, malandro, o que você queria? Que eu passasse talquinho no seu bumbum? Te fizesse cafuné? Te desse uma bitoca? Mandasse fazer um bolinho de marzipã com nossas iniciais entrelaçadas? Esculpisse um smurf violeta com sua cara abraçando um coração borrifado de alfazema? Que eu te desse um danoninho sabor amora, dengo e pônei? Informamos que a saída de emergência para marmanjo mal-educado metido a sensível é logo depois da loja de lembranças.”
Algo análogo se aplica ao caso. Lula até não desceu o nível.
Por isso não concordo com o que Caetano disse. Mas, claro, sei que ele não se confunde com o uso que com certeza vem sendo feito de declarações como essa. Como foi e é vítima de policiamento ideológico, Caetano tem  o direito de ficar puto. Só que não está claro pra mim se ele leva em conta o risco de responder com a mesma moeda, e confundir qualquer apoio a Dilma e Lula com voluntarismo cego de militante. O texto é ambíguo nesse sentido, talvez de forma calculada.
Agora, que a quase unanimidade e o obaoba atual no Brasil têm lá seus riscos claros, nisso Caetano tem razão mesmo. Os recentes escândalos envolvem claramente exploração eleitoral por parte da grande imprensa, de maneira inteiramente desequilibrada, como mostra a falta de repercusão de reportagem da Carta Capital sobre a quebra de sigilo feita por empresa das filhas de Serra e Daniel Dantas na era FHC. Na época, como era costume, absolutamente nada se fez no governo ou no Ministério Público a esse respeito. Tem vários aspectos questionáveis nas denúncias, e o melhor comentário que vi a esse respeito foi de Nassif.
Não obstante isso, é pra lá de perigoso deixar de se preocupar com os indícios de corrupção ou tentativa de corrupção que ocorreram na Casa Civil. Digamos que, na melhor das hipóteses, o filho da agora ex-ministra Erenice Guerra tivesse uma consultoria legal, que cobrasse taxa de mercado nos seus serviços, e que a parente ilustre nada fizesse pra “agilizar” os negócios da empresa interessada. Ainda assim, seria revoltante que alguém ocupando cargo dessa importância não visse problemas com esse tipo de movimentação. Tá lá em cima, tem que aguentar o tranco, ainda mais com uma imprensa dessas. Se isso ocorreu, ela não deveria ter se tornado ministra, porque não estava à altura do cargo.
De todo jeito, engarrafamento e música alta na praia à parte (por sinal, estranhei o ataque ao axé e a seleção lexical "vulgar", tão preconceituosa - ele enjoou de "cafona"?), o texto de Caetano até me deixou com saudade de Salvador, de cujo provincianismo já nem sei se me envergonho.
“Caetano Veloso
Cantor e compositor
“Retenção em direção à Raul Seixas e ACM”. É uma frase e tanto para marcar a entrada na cidade de Salvador. A voz da moça no rádio do carro não deixa transparecer nem uma gota de ironia ou ansiedade.
Apenas adverte o motorista já preso no engarrafamento que ele terá maiores dificuldades ainda ao chegar em conhecido viaduto, que desemboca em conhecidíssima avenida.
As margens da estrada estão cheias de pessoas que agitam bandeiras com nomes de candidatos, alguns dos quais aparecem também em cartazes apoiados na grama.
Aparentemente, todos estão abraçados com Lula. Muitíssimos com Dilma e Lula. O governador Jaques Wagner aparece num grande outdoor entre seu vice e Dilma. Inacreditavelmente, ele é anunciado como Wagner Dilma, em grandes letras brancas.
Letras miúdas explicam que ele é candidato apenas com a palavra “governador”.
Letras igualmente pequenas dizem que seu vice é Otto Não-Sei-Quê. Nada é explicado sobre Dilma, de modo que o nome dela realmente aparece como sendo o sobrenome de Wagner: mesmo tipo, mesma cor, mesmo tamanho.
A Bahia é especialmente lulista. Sempre foi. Eu me orgulhava disso. Agora, já não consigo sentir que ela o seja pelas melhores razões.
Sou otimista e creio que as melhores razões ainda predominam na composição do fenômeno Lula. Mas é impossível não ver a infantilidade dos eleitores na aceitação do que quer que Lula diga ou faça. Entendo o papel que a economia desempenha no êxito do seu projeto de fazer o sucessor. Mais ainda: o Bolsa Família é um grande conseguimento.
Mesmo assim, senti necessidade de gritar para os microfones da Rádio Santo Amaro FM que o presidente da República não pode declarar que um partido político deve ser extirpado. A frase de Lula sobre o DEM é inaceitável. Nem adianta lembrar o papo de livrar-nos da “raça petista”, lançado por Bornhausen: este também era incivil (e com um risco de conotação terrível pela escolha da palavra “raça”), mas ele não era presidente da República.
Reafirmo meu voto em Cesar Maia.
A mesma voz no rádio informa que Erenice Guerra foi destituída do cargo que herdou de Dilma. Também pudera: com aquela nota em tom de ofensiva que ela lançou, só podia mesmo dançar.
Era uma nota que dava vontade de mover céus e Terra para que Serra passasse ao segundo turno com Marina.
Que que é isso? “Aético e já derrotado?” Incrível. E olha que eu gosto menos da “Veja” do que da Erenice, se é que você me entende.
Barracas
Salvador não tinha engarrafamentos assim.
Não faz muito tempo que isso começou.
Uns poucos anos. A cidade inchou, e hoje muito mais gente pode comprar carro. Além disso, há uma Barra da Tijuca no litoral norte: condomínios já se encadeiam desde Santo Amaro de Ipitanga quase até Aracaju. Nosso carro entra na cidade “por dentro”, isto é, pela Paralela e outras estradas paralelas à orla marítima.
Portanto, não vi as praias sem barracas. Era meu sonho (e meu comício quase diário) que se retirassem as barracas fixas das areias da orla.
O prefeito que se reelegeu (como, meu Deus?) tinha erguido “barracas” de alvenaria, para substituir as barracas de telhado de palha. Estas já eram problemáticas pois todas serviam comida, tinham banheiro para os donos e empregados (que muitas vezes dormiam lá), etc. As de alvenaria prefiguravam uma favela crescendo sobre a praia em direção às ondas.
Tinha o problema do som alto com música pop comercial (axé, sucesso americano, pagode, axé e axé). Eu odiava.
Desisti de ir às praias de mar aberto (o Porto da Barra não tinha barracas fixas) e sentia vergonha de levar visitantes amigos. A gente vai à praia para ouvir as ondas baterem, não música vulgar em caixas rachadas. Não é que agora, de repente, esse mesmo prefeito teve um estalo de Vieira e, sem que se conhecesse um plano de solução para a questão, resolveu retirar todas as barracas de uma vez? Parece suspeito? Bem, ouço papo de liberar o gabarito dos prédios da orla. E não gosto de intervenções, por mais sensatas no pensamento, que não levem em conta o que já funciona.
De todo modo, eu acho que uma barraca que se chama, desde, pelo menos, 1972, Jane Fonda: Um Toque de Aconchego (isso escrito em talha de madeira pintada, podendo ser lido do ônibus) devia ser tombada: eu tinha um sonho de mostrar à própria Jane Fonda e tentar traduzir o “subtítulo” para ela.
Falar de Salvador aqui pode fazer Xexéo voltar a me sacanear com piadas sobre o regionalismo que invadiu, por meu intermédio, as páginas cosmopolitas do Segundo Caderno.
Mas a prova de que a Bahia é menos provinciana do que o Bairro Peixoto é que foi lá que Zé Dirceu disse as palavras definidoras do futuro governo Dilma.
O trânsito emperrado entre o viaduto Raul Seixas e a Avenida Antônio Carlos Magalhães me fala da tensão entre o impulso desprovincianizante e o populismo arraigado.
As primeiras palavras petistas sobre Lula ser maior do que o PT (e disso ter produzido uma vitória do PT sobre o próprio Lula, este passando a ter sido uma jogada para que o projeto político do partido domine o País) foram pronunciadas na Bahia. Onde sempre se descobriu o Brasil.
Aliás, por que ninguém respondeu à minha pergunta sobre a razão de aprendermos na escola que o Brasil foi descoberto? Domingo que vem eu conto como Jon Hendricks me levou, via Moreno, a redescobrir tudo. Ouvindo essa música, fiquei mais capaz de apreciar Raul, ACM, Erenice ou Dirceu. Venha o que vier, eu encaro.”

7 de setembro de 2010

O elo débil e o súbito pudor

Brincadeira a matéria que deu a manchete da Folha de hoje. Consegue relacionar o contador Antônio Carlos Atella Ferreira – que entrou com o pedido pra conseguir os dados fiscais da filha de Serra com procuração falsa – até com o caso Celso Daniel. A linha de raciocínio é realmente admirável. Pra quem não leu:

Registro em cartório e relações familiares derrubam versão do PT sobre contador

FLÁVIO FERREIRA
SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO


Registros nos cartórios eleitorais de Mauá e Ribeirão Pires (Grande São Paulo) e relações familiares derrubam a versão do PT de que o contador Antonio Carlos Atella Ferreira, responsável pela violação do sigilo fiscal de Veronica Serra com uma procuração falsa, não tem ligação com o partido.


Os documentos nos cartórios desmentem a versão de que a filiação de Atella não foi efetivada por erro de grafia do nome dele, como a Folha.com revelou ontem. No final de semana, o PT argumentou que a filiação de Atella não havia se consumado pois o registro havia sido feito com a grafia do nome errada -constava "Atelka" e não Atella, segundo o partido.


No entanto o banco de dados da 217ª Zona Eleitoral, em Mauá, indica que Atella é filiado ao PT desde 20 de outubro de 2003. Para a Justiça Eleitoral, nunca houve pedido formal de desfiliação da sigla. O tribunal informou que os partidos atualizam as listas de filiados duas vezes por ano.


Em 10 de abril de 2006, ocorreu mudança do domicílio eleitoral do contador para Ribeirão Pires. Ou seja, para a Justiça, Atella passou a ter filiação partidária em Mauá e domicílio eleitoral em Ribeirão Pires.


Isso levou o sistema eletrônico do TRE paulista, em novembro de 2009, a excluir o nome dele do banco de dados. O sigilo de Veronica, filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, foi violado dois meses antes.


O fato de o nome de Atella ter sido excluído do banco de dados não significa que ele tenha sido desfiliado. O cartório da 183ª Zona Eleitoral emitiu uma certidão na qual declara que "não há pedido de desfiliação do eleitor acima mencionado (Atella) nos arquivos desta unidade eleitoral".


Atella negou filiação partidária no primeiro momento. Mas, após o TRE-SP confirmar o vínculo, disse que "não se lembra" da filiação. Tão logo a filiação foi divulgada, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, se apressou em negar o vínculo dele com a sigla.


FAMÍLIA


A família de Atella é militante histórica e fundadora do diretório do PT de Mauá na década de 80. Neuza Maria Ferreira Jaloretto, sua irmã, é filiada ao PT desde 21 de maio de 1981. A inscrição dela foi feita na 217ª Zona Eleitoral, a mesma em que Atella deu entrada na sua filiação.


Servidora da área da saúde da Prefeitura de Mauá, ela é casada com o oficial de Justiça João Primo Jaloretto, fundador do PT na cidade. Segundo o presidente do PT paulista, Edinho Silva, Jaloretto é militante histórico. O ingresso no PT ocorreu a partir de associações de bairro nos anos 80.


"Ele [João Primo] foi fundador do PT de Mauá, é militante do PT", disse. A família Jaloretto é dona de um imóvel alugado para as atividades políticas do deputado estadual Donisete Braga (PT). O aluguel, no valor de R$ 1.340 mensais, é pago a Durvalino Jaloretto com a verba do gabinete de Braga na Assembleia Legislativa.


Integrante do grupo político do prefeito Oswaldo Dias (PT), Braga é uma das lideranças do partido no ABC. Ele enfrentou processo -arquivado em 2006- por envolvimento no assassinato do prefeito Celso Daniel (PT). A quebra do sigilo telefônico de Braga, que nega envolvimento no crime, revelou que ele estava próximo ao local do cativeiro de Daniel um dia antes da sua morte.

A família de Atella em Mauá é ligada à do prefeito Oswaldo Dias. As filhas de ambos, Letícia Dias e Juliana Jaloretto, estudaram juntas. Hoje, o filho de Dias, Leandro, preside o diretório municipal do partido após seu grupo derrotar o do ex-vice-prefeito Márcio Chaves. A Folha identificou mais dois familiares petistas em Mauá: Maria do Carmo Jaloretto, filiada desde abril de 1981, e Anna Clélia Jaloretto, desde 1988.

Colaborou RANIER BRAGON, de Brasília

Resumindo, é isso: Atella é irmão de Neuza, filiada ao PT e casada com Jaloretto, fundador do partido em Mauá. A família deste (a família do cunhado, nem sequer este mesmo) tem um imóvel alugado pelo deputado estadual Donisete Braga (PT), que foi investigado (não condenado, pois o processo foi arquivado) por envolvimento no caso Celso Daniel.

Alguma dúvida de que a grande maioria dos leitores passará batida pela debilidade da linha de relação e simplesmente engolirá a ideia de que esse procuradorzinho é mais um desses sujos do PT?

E outra coisa: desde quando a imprensa se importou tanto com quebra de sigilo a ponto de se concentrar inteiramente nessa ilegalidade e não nas informações resultantes dela? Quantas vezes os noticiários se valem de informações vazadas irregularmente da polícia, do Ministério Público, do Judiciário para rechear as reportagens no vácuo deixado pela falta de jornalismo investigativo? E as câmeras escondidas?

Quebra de sigilo é grave. A resposta certa é sair quebrando regras mínimas de coerência e até bom senso?

5 de setembro de 2010

Resumo de uma Folha de domingo

Meu resuminho do que li da edição de hoje da Folha:

A gente tá doido pros tucanos tomarem logo de volta o poder da mão desses aparelhistas contumazes. Parece que já era, mas mesmo assim ainda é tempo de criar factoidilmas. Se não der, quem sabe vai pintar um novo PSDB pra nos redimir?

Vejamos passo a passo.

A gente tá doido pros tucanos tomarem logo de volta o poder (…) - Isso pode ser lido no editorial O aviso de Lula, que apela para o argumento furado da necessidade de alternância (vale lembrar, é preciso manter a fama de imparcial):

“Os artifícios retóricos e os argumentos que constavam do artigo de Lula poderiam, quase que integralmente, ser agora esgrimidos contra seu próprio governo.
De fato, poucas vezes na história republicana o fisiologismo foi tão explícito e subordinou-se tanto a máquina pública ao proveito partidário. Por certo, tornaram-se ainda mais caudalosos os rios de dinheiro vertidos na candidatura continuísta -e mais sofisticadas as técnicas de comunicação para ‘ludibriar o eleitorado’.
Utilizou-as Lula, com sua vocação de animador de plateias, para inventar a herdeira que, sem nenhuma experiência eleitoral, poderá ocupar seu trono -ou melhor, a cadeira presidencial. As recorrentes comparações com a história mexicana, que ora voltam à cena, podem ser úteis nos torneios verbais, mas não vão muito além disso. Por mais longos que possam ser os ciclos de grupos políticos no poder, as democracias evoluídas (o que não era o caso do México) acabam sempre por experimentar uma saudável alternância administrativa.”

Então viu, a comparação com o México só não vale porque aqui, inevitavelmente, teremos uma “saudável alternância”.

“(…) da mão desses aparelhistas contumazes” – Quem garante é Cantanhêde, que apresentou a brilhante prova de que os vazamentos estão ligados à campanha de Dilma, e seria um absurdo pensar em outras possibilidades:

“Quem faz o serviço sujo para a campanha petista na internet já tem um culpado: Aécio! É ridículo, como se esses tucanos e esse Aécio é que vivessem fazendo dossiês e usando o aparelho de Estado para violar o sigilo dos outros.”

Entendi. Quem “vive fazendo” é que está fazendo. Tirando a consistência lógica da forma do argumento (X vive fazendo Y; Y aconteceu; logo, X fez Y), a premissa se baseia em parte no factoide do dossiê, que data de junho, e sobre o qual já falei minhas besteiras. Não vejo porque uma das hipóteses em aberto não seja a de que houve participação do PSDB mineiro.

Parece que já era, mas mesmo assim ainda é tempo de criar factoidilmas – Coisa mais furada foi a manchete da edição de Domingo: “Consumidor de luz pagou R$1 bi por falha de Dilma”. Em primeiro lugar, a matéria não estabelece claramente essa relação segundo a qual o consumidor teria pagado, e o valor nem chegou a isso (se R$11 mi não é nada pra Folha, dá pra mim). Em segundo, o próprio texto, claro que sem nenhum destaque, lembra que o tal “erro” é da legislação do governo anterior:

Na época, um dos critérios para a concessão do benefício era o consumo residencial. Os técnicos do tribunal, contudo, concluíram que consumidores que gastavam pouco (até 80 kWh por mês), não eram, necessariamente, pobres -caso de donos de casas de veraneio.
Por outro lado, consumidores de fato pobres ficavam de fora do desconto, pois podiam registrar consumo acima de 80 kWh/mês, devido ao alto número de moradores sob um mesmo teto.
Ou seja, consumidores pobres subsidiaram ricos.
O tribunal propôs, então, a reformulação dos critérios do benefício, criado em abril de 2002, último ano do governo FHC.

Uma questão importante, mas nem atual nem bem aprofundada, justificada apenas porque contradiria a imagem de boa administradora da candidata. E vai parar na manchete da edição de domingo…

Se não der, quem sabe vai pintar um novo PSDB pra nos redimir? – Essa ficou por parte de uma matéria sobre PSDB:

“O PSDB terá que ser reformulado, independentemente do resultado das eleições. Essa é a opinião consensual de fundadores tucanos ouvidos pela Folha e que seguem filiados ao partido 22 anos depois de seu nascimento.
Ao mesmo tempo em que elogiam José Serra como candidato à Presidência, os ouvidos concordam que o partido perdeu a essência, curtida na social-democracia europeia.
Hoje, dos 109 fundadores, apenas Fernando Henrique Cardoso e Pimenta da Veiga, além de Serra, ainda compõem o conselho político nacional do partido.
Existe consenso entre os entrevistados de que a perspectiva de ver seu principal antagonista no cenário político, o PT, chegar a pelo menos 12 anos seguidos no poder é fruto de erros cometidos pelos próprios tucanos.”

O final da citação é brilhante: quer dizer que o único motivo capaz de ter feito os tucanos perderem a presidência foram seus próprios erros? Nunca uma admissão do tipo foi tão pouco humilde. Me lembra trecho da letra de Dom de Iludir, de Caetano “Você sabe explicar / Você sabe entender / Tudo bem / Você está, você é / Você faz, você quer / Você tem”. Se começarem se reformulando assim, estarão seguindo os passos do DEM: vão mudar a roupa, mas não a alma.