23 de junho de 2010

Resposta a Rodas

O blogue de Paulo Henrique Amorim reproduz artigo dos professores Francisco de Oliveira, Paulo Arantes, Luiz Martins e J. Souto Maior em resposta à defesa do investimento privado nas universidades públicas brasileiras feita pelo atual reitor, Rodas, citada num post nosso. Dizem eles:

“A saída que expõe é uma contradição em termos: o ingresso de dinheiro privado para a melhoria da universidade pública. Para proteger a universidade pública, que é melhor que a privada, diz que a universidade pública deve abrir suas portas para o dinheiro privado.
No fundo, o que a sua solução esconde é a tentativa de privatizar o ensino público. Ora, não se tendo conseguido fazer com que as entidades privadas prevalecessem no cenário educacional, busca-se fazer com que o ensino público forneça o material humano necessário para os fins da iniciativa privada.
A dificuldade econômica pela qual passa a universidade pública é fruto de uma negligência proposital do Estado com o ensino público, que se pretende compensar com o investimento privado.”

A íntegra, aqui.

14 de junho de 2010

O que pode decidir as eleições?

Final de semestre, copa do mundo. Falta de tempo pra escrever, e, provavelmente, de disposição pra ler sobre política. Então nada de sair dissertando sobre o quanto pode ser simbólico o lançamento da candidatura de Serra num decadente clube de classe média em Salvador, dizem que sem nenhum negro no palanque. Nem dá pra comentar as últimas da história de um dossiê supostamente feito pela campanha de Dilma contra Serra – o mais concreto dela, por enquanto, é que há um livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior sobre as privatizações da era FHC, a ser lançado depois da copa.

Pra lá disso tudo, o que talvez realmente influencie essa campanha são os fenômenos econômicos que ocorreram durante o governo Lula, como mostra matéria da Folha, que fez boa entrevista com o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV do Rio. Eis alguns dados:

- queda da desigualdade por sete anos consecutivos, fora um, e retomada da redução em ritmo mais acelerado este ano;

- 10% de redução de pobreza de abril de 2009 a abril de 2010;

- ascensão de 31,9 milhões de brasileiros às classes ABC;

- 20 milhões de pessoas saíram da pobreza em cinco anos;

- a diminuição da pobreza não se deve só ao Bolsa Família, mas também ao aumento do emprego formal, da renda do trabalho e à valorização do salário mínimo (de 1,4 a 2,2 cestas básicas):

“Para Lena Lavinas, especialista no assunto no Instituto de Economia da UFRJ, a pobreza no Brasil cai especialmente por conta da criação de vagas formais no mercado de trabalho.
‘Cerca de 90% dos novos empregos formais nos últimos anos pagam até três salários mínimos (R$ 1.530,00). Isso favorece diretamente os mais vulneráveis’, diz Lena.
Além de criar quase 13 milhões de empregos formais (de 28,7 milhões para 41,5 milhões), o governo Lula patrocinou um aumento real (acima da inflação) de 53,6% para o valor do salário mínimo.”

“Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que a recuperação do salário mínimo ‘foi o grande ‘programa social’ de Lula’. "Pois ele tem impacto direto sobre o crescimento da renda familiar."

A história do dossiê é vaguíssima, e deve atingir muito mais a candidatura de Serra no segundo semestre. A política externa, ao contrário do que se pensa, tem apoio da opinião pública. Não parece haver condição política de derrubar a candidatura Dilma nos tribunais, seja pela aprovação de Lula, seja pela falta de base social da oposição (no discurso de Serra, isso virou “não tenho esquadrão de militantes pagos com dinheiro público”, ou algo assim), seja porque nesse campo os demo-tucanos tampouco têm ficha limpa.

Muito mais que isso, o bom momento econômico tende a ter um papel importante (veja no NPTO), e essa transformação social é atribuída principalmente ao governo Lula - em minha opinião, de forma justa. Não é lábia nem simbolismo, foram feitos reais, sentidos pela maioria.

Enfim, é a realidade social, estúpido.

11 de junho de 2010

Universidade e mercado: boa poesia, prosa ruim

Do ESQUERDA.NET: “A Universidade de Middlesex, em Inglaterra, decidiu fechar o curso de Filosofia e encontrou forte oposição de alunos, pessoal e outros cidadãos. Tariq Ali juntou-se ao protesto a 15 de Maio, com esta intervenção junto ao edifício ocupado.”

Poema de Brecht, citado por Tariq Ali como inspiração:

“Há os irreflectidos que nunca duvidam.
A sua digestão é esplêndida, o seu juízo infalível.
Não acreditam nos factos, acreditam só em si mesmos.
A paciência consigo mesmos é ilimitada. Os argumentos,
ouvem-nos com os ouvidos dum espia policial.
Os irreflectidos, que nunca duvidam,
encontram-se com os reflectidos que nunca actuam.
Duvidam não para chegar a uma decisão, mas
para eludir uma decisão. Com rostos ansiosos
advertem tripulações de navios afundando-se que a água é perigosa.
Debaixo do machado do assassino,
perguntam-se se ele não é humano também.
Resmungando qualquer coisa
sobre a situação não estar ainda clara, vão para a cama.
Portanto, se elogiais a dúvida,
não elogieis a dúvida que é uma forma de desespero.
De que serve a capacidade de duvidar
a um homem que não consegue decidir-se?
O que se contente com bem poucas razões
poderá actuar erradamente
mas o que precise de demasiadas
permanecerá passivo em tempos de perigo.”

Enquanto isso, Rodas, reitor da USP, defende hoje na Folha o investimento privado nas universidades públicas brasileiras. Comentário secundário (ou nem tanto): pra um dito bambambam, o cara escreve mal, viu? Ele podia ao menos ter delegado a tarefa a um assessor de prosa melhorzinha. Isso já dificulta o início de qualquer debate, tirando a ideia vir de quem vem.

8 de junho de 2010

Soninha entre demônios e capetas

 Site do PPS

Li um texto interessante de Soninha Francine, explicando o porquê de seu apoio a José Serra. Um dos pontos principais é que, na sua experiência como vereadora, ela viu ser injusta a transformação do então prefeito no diabo em pessoa, feita pelo seu partido na época, o PT. Um trecho:

“Enfim, eu o detestava. Até ser vereadora e ele, prefeito. E descobrir que o demônio que pintavam não era nada daquilo. Mal humorado, impaciente, carrancudo, ríspido demais às vezes? Sim. Mau caráter? Não.”

Um belo texto, convincente. Utiliza-se da infalível construção em torno do eixo aparência / realidade, mostra a transformação da personagem no curso da narrativa e faz apelo a uma imagem de tipo novo na política, com “papo real”. Por isso, e pela moral que Soninha tem, aliás merecida, o discurso faz efeito, o que se percebe bem neste comentário:

“Rangel disse...

Bacana da parte dela. Acho muito legal alguém abandonar as paixões partidárias e ver a coisa pelo lado prático, ali, no 'meiozão', na realidade dos fatos e registrar pra quem quiser ler.
Parabéns e agora sou seu fã, Soninha.”

Sem dúvida são empobrecedoras essas reduções maniqueístas do outro a demônios. Elas forçam a barra, envolvem simplificações, dependem de baixo nível e, em termos de eficiência de campanha (o que não é o mais importante), acabam até fortalecendo o adversário, pois comprometem a credibilidade de quem as formula.

Dá pra perguntar, porém, se a própria oposição hoje não vive de uma, com o perdão, capetização do petismo. Se o  mensalão não conseguiu colar na imagem de Lula – acima do bem e do mal, segundo declaração recente de Serra – é certo que prejudicou e muito a opinião geral sobre o partido. Vejamos duas faces recentes do discurso sobre esse capetismo:

1) “O PT defendia a ética e fez igual a todo mundo, logo é pior que todos” – estranho raciocínio, que premia a honestidade daqueles que sempre roubaram, mas nunca fingiram fazer diferente (será que não?): o sujeito detesta petistas porque seriam como os outros e então passa a apoiar… os outros. Dessa forma, viu-se o PPS criticar o governo Lula, principalmente sob a bandeira da ética, de mãos dadas com o republicaníssimo DEM (como bem apontou Rodrigo, “o ARENA, perdão, PFL, desculpa, DEM”). Soninha foi sub-prefeita da Lapa na gestão Kassab até deixar o cargo para ser, agora, pré-candidata, provavelmente ao senado. Contra essa DEMonização, ela não falou. Na Bahia, o PPS declarou recentemente, contra o PT do governador Jaques Wagner, apoio ao PMDB de Geddel Vieira Lima.

Quanto à bandeira da ética, vale lembrar que Soninha só mudou de partido e de lado quando isso lhe daria oportunidade de candidatar-se à prefeitura. Marina Silva analogamente só saiu para o PV no momento em que se viabilizou sua candidatura à presidência. Nem de longe é questão agora de demonizá-las, até porque ambas  têm muito a adicionar a nosso contexto político. Mas, em se tratando de política, se devemos relativizar os demônios, não custa humanizar as figuras angelicais.

O PT e o Diabo - Blog Anatolli

2) “O PT é um partido autoritário, de DNA stalinista, usa da democracia só quando isso é de seu interesse imediato” – ora, quem quer que já tenha se aproximado da dinâmica interna do partido sabe da infinidade de tendências  discordantes, do quebra-pau que acontece ali dentro. Confunde-se unidade de ação (é de se perguntar se quem critica por alto a prática pensa em como deve funcionar um partido democrático) com tendências ditatoriais. Veja-se, além disso, como são tomadas as decisões no PSDB, entre três ou quatro grão-tucanos em restaurantes chiques dos Jardins. Mas ali estão nossos grandes democratas, certo?

Ainda que não se deva elogiar nem esconder a corrupção (aliás, quem deu mais liberdade à Polícia Federal e ao Ministério Público?), e que tudo indica ter havido uma forte hegemonia interna de um tendência no partido nos últimos anos, esse tipo de discurso em nada contribui para uma compreensão do que é o PT. É uma charge apressada, fácil e de gosto duvidoso.

Mas o erro mesmo é achar que a oposição ao PSDB e ao DEM dependa desses processos de diabolização. Raciocínios como o de Soninha às vezes dão a entender que só poderíamos ser contra Serra se o tomássemos como o satanás em sua forma vampiresca.

A questão não é simpatizar ou não com Serra pessoalmente, babar ou não com as entrevistas de FHC. O debate não deveria passar por quais são os nossos principais problemas e que grupo político tem condições de resolvê-los? No Brasil de hoje, que interesses cada um representa? Quem contribuiu mais para a redução das desigualdades? Qual deles tem mais compromisso com os mais pobres, com nossa soberania?

Me parece bastante possível posicionar-se a favor de Dilma e contra Serra a partir dessas questões, sem que ele nem de longe precise ser satanizado. E é um pouco demais dizer que as críticas à oposição só podem ser feitas na base do “ou Lula ou Lúcifer”.

7 de junho de 2010

“Dossiê”: entrevista e vontade de esclarecimento

A Folha divulgou hoje entrevista com o jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Eis trecho:

Por que ocorreu a reunião?
Não era só vazamento, começaram a roubar coisas lá dentro. Sabotagem. [...] O Onézimo chegou nessa reunião dizendo que ele tinha condições de destruir isso porque ele havia trabalhado antigamente, e que tinha brigado com o pessoal, da inteligência do Itagiba. [...] Quando o Serra assumiu o Ministério da Saúde, ele montou --com o pretexto de investigar laboratórios-- uma central de espionagem, que era formado por quem? É só você ver quem estava cadastrado. Era um agente do SNI, o "agente Jardim", que até pouco tempo estava no gabinete [de Itagiba na Câmara], um ex-delegado... Isso quem falou foi o próprio Onézimo.

Ele chegou nessa reunião [e disse]: "Pô, vocês estão atrasados, porque essa equipe está trabalhando há dois anos". "Fazendo o quê?" "Ah, eles estão levantando dossiê contra o pessoal, esse povo do Itagiba está levantando 300 dossiês contra pessoas do PMDB, e quem do PMDB não votasse com o PSDB, estão fazendo chantagem, estão chantageando". [...] E disse o seguinte: que tinha sido convidado, inclusive, para integrar esse grupo. "Então pra gente descobrir quem está com vocês, aí, é muito fácil, porque eu já trabalhei lá". Ele contou também que trabalhou --o que facilitaria [seu trabalho]-- que já tinha trabalhado no grupo de inteligência da campanha de Fernando Henrique em 1994.

Ele disse que esse grupo do Itagiba, depois de vasculhar a vida do Aécio Neves e da Dilma e não ter encontrado nada contra, eles estavam desesperados. E disse que tem uns 500 dossiês contra o pessoal do PMDB. Essa é a verdade.”

Nassif sugeriu recentemente que está havendo uma tentativa do jornal de recuperar a credibilidade jornalística. Tomara. Deve fazer parte desse movimento o juízo de que ignorar o que está acontecendo na internet é insustentável.

Já no Estadão, Dora Kramer, hoje, faz que não viu as informações que circulam na rede sobre o livro do repórter. E afirma:

“Se o PT tem informação relevante de interesse público a respeito, diga do que se trata.”

Mas, se o partido processa Serra pela acusação infundada quanto a Dilma ser responsável pelo dossiê, aí:

“Essa ação na Justiça é um gesto vazio e não ajuda a esclarecer coisa alguma.”

Ah, certo, a acusação do candidato tucano não foi “gesto vazio”, e ajudou a esclarecer muita coisa.

5 de junho de 2010

A cobertura da Folha sobre o “dossiê”

Sábado de manhã, me deparo com reportagem da Carta Capital intitulada “O dossiê do dossiê do dossiê…”. Pô, eu vinha preparando um post pro blogue chamado “Dossiê do dossiê”. Perdi o título, mas insisto, até porque minha abordagem vai ser um pouco diferente.

Na quinta, 3 de junho, Luiz Nassif publicou texto que esclareceu bastante os bastidores desse suposto dossiê contra Serra supostamente organizado pela campanha adversária supostamente por ordens da própria Dilma. Bem verossimilhante, o artigo diz mais ou menos o seguinte: a acusação parece ter sido uma maneira de o tucano defender-se preventivamente da divulgação de um livro que está sendo escrito pelo repórter Amaury Ribeiro Jr. sobre as privatizações da era FHC (quando mais?). E o pior é como a coisa teria surgido:

“Quando começou a disputa dentro do PSDB, pela indicação do candidato às eleições presidenciais, correram rumores de que Serra havia preparado um dossiê sobre a vida pessoal de seu adversário (no partido) Aécio Neves.

A banda mineira do PSDB resolveu se precaver. E recorreu ao Estado de Minas para que juntasse munição dissuasória contra Serra. O jornal incumbiu, então, seu jornalista Amaury Ribeiro Jr de levantar dados sobre Serra. Durante quase um ano Amaury se dedicou ao trabalho, inclusive com viagens à Europa, atrás de pistas.(…)

Nesse ínterim, cessou a guerra interna no PSDB e Amaury saiu do Estado de Minas e ficou com um vasto material na mão. Passou a trabalhar, então, em um livro, que já tem 14 capítulos, segundo informações que passou a amigos em Brasília.”

Na mesma quinta-feira, o jornalismo da Folha se ateve ao declaracionismo (a nova versão do criacionismo pelo verbo), e isso rendeu a manchete principal: Serra acusa Dilma de fazer dossiê; petista nega. Nesse dia seguiram-se vários quebra-paus, e o PT acabou decidindo processar Serra pela acusação. Gostei da troca de afagos entre o jornalista Ricardo Noblat e o presidente do PT, José Eduardo Dutra no Twitter:

“@BlogdoNoblat - Na versão que começou a circular, tem 110 páginas o dossiê contra Serra elaborado pelos novos aloprados do PT. 2:53 AM Jun 3

@ZéDutra 13 - Você sabe quem elaborou o tal dossie? Então diga. Ficar falando em "novos aloprados do PT" é desonestidade intelectual 9:41 AM Jun 3

@BlogdoNoblat - Eu sei, e o senhor sabe. E não me venha falar em desonestidade intelectual. Há companheiros do senhor que entendem disso melhor.

@ZéDutra 13 - Vc é um jornalista bem informado e deve saber a verdadeira origem desse suposto dossiê. Nâo queira jogá-lo no nosso colo.”

Ontem, sexta, a Folha apenas publicou a notícia sobre a representação do PT e divulgou alguns dados sobre o dossiê, ainda relacionando-o à campanha de Dilma. O jornal ignorou inteiramente o texto de Nassif, que comentou a omissão.

Apenas hoje as edições impressa e online mencionam o repórter Amaury Ribeiro Jr, em matéria com a seguinte manchete: “Jornalista e delegado são pivôs de intriga do dossiê”. Em vez de ligar o início de suas investigações ao PSDB mineiro, a Folha prefere apontar para o Estado de Minas, “próximo politicamente de Aécio”.

Seguem-se minhas questões.

1) Por que a Folha ignorou inteiramente o texto de Luiz Nassif, autor do furo?

Como se sabe, Nassif foi colunista do jornal e, se não me engano, membro do conselhor editorial. Saiu durante o governo Lula, meio que num clima de que teria perdido sua “imparcialidade”. Gostaria de ver o trecho do manual da Folha que diz ser proibido atribuir afirmações a ex-empregados.

Talvez então se tratasse de rigor editorial, da necessidade de primeiro apurar os fatos. Ora, aposto com qualquer um que a Folha de amanhã terá trocentas declarações que por si só viram notícias, de fontes muito mais suspeitas que Nassif.

Para justificar a repercussão de uma afirmação como a de Serra, de que Dilma era a principal responsável pelo tal dossiê, certamente se evocaria um dos pilares éticos da empresa: o direito do leitor à informação. Pouco importa se era apenas jogo de cena do candidato, a Folha seria como aquele seu amigo que nunca te esconderia nada, ou aquela tia que causa frisson em reuniões familiares por sua falta de papas na língua. Ao leitor cabe julgar o mérito da informação. O mesmo vale para invasão de privacidade, violação de sigilos bancário e telefônico, reprodução de buchichos dos corredores da política, etc. É claro, tudo isso é válido em caso de predomínio do interesse público, mas a questão é: quem julga o que deve ser informado e o que deve ser calado, e com que critérios?

Esse caso é até pouco grave, considerando que bem ou mal a Folha hoje deu algumas informações sobre o livro do jornalista, que, a partir de uma matéria da respeitabilíssima Veja, virou o “dossiê” da tal intriga. A essa altura, era inevitável. Mas se trata apenas de um exemplo entre mil.

Não nos enganemos: o direito do leitor à informação é o direito da empresa jornalística de controlar a informação. Com a internet, podem ter se ampliado as fontes, mas muito pouca gente lê blogues de política, seja por desinformação, seja por falta de acesso, seja porque, convenhamos, há coisas muito mais interessantes e bem escritas pra se ler nesta vida.

2) Por que a manchete de hoje enfatiza o papel do jornalista e do delegado?

A pergunta me parece importante porque há ao menos duas outras questões de muito mais valor jornalístico: se é verdade que Aécio e seu grupo político mandaram fazer um dossiê preventivo contra Serra; e o que o livro de Amaury Ribeiro Jr. traz de novo sobre as privatizações (ele não teria escrito tanto apenas pra recontar a história).

Existe ainda a questão do envolvimento do delegado Onézimo de Souza com o episódio da Lunus, que tirou Roseana Sarney do páreo e deixou campo aberto pra candidatura de Serra na campanha de 2002.

A ideia, suspeito, é levar um pouco mais adiante a história de que há novos “aloprados”, ou “neoaloprados”, como já se disse por aí (um rótulo assim, percebam, é extremamente eficaz). Baixada a poeira, tanto faz o que de fato aconteceu ou deixou de acontecer. Até outubro, veremos pulularem remissões a esses “fatos” de que a campanha de Dilma retoma as piores práticas do partido, o que aliás apenas revelaria sua faceta autoritária e o desrespeito geral desses stalinistas pelos princípios democráticos, como a legalidade e a liberdade de imprensa.

Bismarck é, se bem me lembro, o autor da célebre máxima segundo a qual as leis são como as salsichas: é melhor não saber como se fazem. O mesmo, alguém já disse, aplica-se às notícias. Outra afirmação notória sobre a legislação - “Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei” – também poderia ser dita do jornalismo: seu exercício deve ser mais cuidadoso quando se trata de fuçar a vida dos adversários.

2 de junho de 2010

Vídeo sobre a cracolândia

O que a cracolândia diz sobre São Paulo?

Marina Silva a favor da “união civil de bens”

Marina Silva, em seu Twitter:

“Que fique claro: defendo a união civil de bens entre homossexuais”.

E explica na entrevista ao Terra TV reproduzida em seu site:

“É um direito (a união civil de bens) que as pessoas têm. Se as pessoas têm um patrimônio junto, por que não podem usufruir desse patrimônio? Se têm uma união estável, por que não podem ser beneficiários do mesmo plano de saúde?”, indagou Marina para na sequência declarar seu apoio à reivindicação do movimento LGBT.

(…)Marina esclareceu que faz distinção entre união civil e casamento. ‘Entendo casamento como um sacramento’, afirmou. Para ela, um relacionamento homossexual não pode ser enquadrado nessa categoria. A presidenciável afirmou que esse posicionamento se deve a sua profissão de fé. Marina é cristã evangélica.

‘Prefiro que o movimento gay olhe para mim e diga que a Marina nesse aspecto (conceito de casamento) não pensa igual a mim’, declarou para justificar a transparência que considera essencial na abordagem do tema.

Ressaltou que um Estado laico deve assegurar os direitos de todos e para todos. Criticou aqueles que, em período eleitoral, mudam de opinião sobre questões como crença religiosa e aborto de acordo com as pressões de parcelas do eleitorado.”

Nem precisa dizer nada sobre essa distinção entre união de bens e “sacramento”. Dê a César o que é de César, menos o direito de César amar a César, transar com César, casar com César. Será que Caetano ainda vota nela?

Mas o objetivo deste post não é espinafrar a candidatura da evangélica Marina Silva. Seria até injusto reduzi-la a isso. Aliás, ainda bem que Marina não foi ejetada como Ciro Gomes.

Queria só dizer que é admirável a sinceridade quanto a esse posicionamento, embora o fosse mais ainda se não houvesse dois aspectos: 1) com pouca chance de ganhar, fica mais fácil falar a verdade; e 2) não apoiar relacionamentos homossexuais é de longe menos impopular, a não ser infelizmente entre poucos, do que dizer-se a favor do aborto ou admitir-se ateu.

Enquanto isso, Obama, que tanto tem decepcionado na política externa, faz diferença em seu Twitter:

“As we recognize the immeasurable contributions of LGBT Americans during Pride Month, we renew our commitment to equal rights for all.”