18 de outubro de 2010

E agora, Dilma?

Eu me considero, ao menos em termos políticos, uma pessoa pragmática, e o meu último post não me deixa mentir sozinho. Mas, mesmo sabendo que política não se faz com boas intenções, assim como tampouco pode ser apreciada pela pureza ideológica tão propalada pelos seus atores, não entendi o debate de ontem.

Primeiro, além de ter sido visivelmente chato, minha conexão estava péssima – não sei se por culpa da internet de que dispunha ou do número de acessos –, o que só tornou tudo um tanto mais insuportável. Mas, como dever cívico é dever cívico, estava lá, firme e forte.

Contudo, de todo o debate, o que mais me chamou a atenção foi: que diabos aconteceu com a Dilma da semana anterior? O que aconteceu com sua assertividade, que resgatou a sua campanha do limbo à qual o segundo turnou a levou e que deixou Serra visivelmente perdido? Marketeiros? Opinião pública? Ela própria? A quem se deve imputar a culpa dessa nova inflexão?

Não sei se ficou claro pra mais alguém, mas, na minha opinião de pseudo-analista político, está óbvio que Dilma funciona melhor quando dá vazão a um seu lado mais combativo. E, quando digo melhor, penso em todos os sentidos: seu raciocínio fica mais ágil, e ela consegue se colocar diante de Serra com mais facilidade – é só ver a ótima tirada do orelhão vs. banda larga do debate passado, que ela deixou passar nesse –; suas idéias, por incrível que pareça, ficam mais claras e suas fala, mais articulada – ontem, a Dilma serena se deixava enrolar por um tom que, a meu ver, não a agrada nem a favorece. Isso sem contar a idéia de espontaneidade.

O meu medo é que, ao menos aparentemente estancada a sangria de votos, o PT retorne à estratégia do primeiro turno: uma pretensa comparação racional de dois projetos políticos que, por si só, seria capaz de convencer o eleitor de qual foi o melhor dentre os dois oito anos – o de Lula ou o de FHC. (Uma estratégia que, embora pareça acertada – vide mais uma aprovação recorde do governo –, está assentada numa matemática que não fecha: os 80% de Lula significam, hoje, "apenas" 54% para Dilma.*) O problema é que, como bem disse Idelber Avelar, o terreno da fala serena e macia é de quem pode, pois já traz consigo uma hierarquia implícita, isso sem contar que, apesar dos avanços do PT, um discurso mais tecnocrata e apartidário, não mencionado o que traz de falacioso, ainda é um terreno mais confortável para o PSDB.

A ver o que acontece.
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* A idéia é de Valter Pomar, mas eu ainda não achei o link.

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