3 de novembro de 2010

O boi de piranha e o tragicômico jornalismo da Folha

Pois é, pegaram mesmo Mayara Petruso pra boi de piranha. Dessa vez, foram atrás até do escritório onde a moça estagiou:
O escritório Paixoto e Cury Advogados, de São Paulo, demitiu a estagiária e estudante de direito Mayara Petruso.

A assssoria do escritório se nega a dizer quando e o motivo pelo qual a jovem foi demitida.
O que me incomoda nessa história não é que a responsabilizem legalmente pelo que ela fez. Muito pelo contrário. Acho justo e necessário. O que me incomoda é que, ao personalizarem o ocorrido, aquelas manifestações racistas deixem de ser tomadas como um grave problema social – este é um discurso bastante difundido – e passem a ser vistas como culpa de uma única pessoa.

É mais fácil combater o “inimigo” quando ele é de carne e osso. Tão mais fácil quanto menos eficiente. As atenções não podem estar completamente voltadas para Mayra Pretuso, mas, sim, para aquilo que legitima a existência de um discurso tão racista.

Nota tragicômica:
"’Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!’, teria escrito a estudante no microblog” [grifo meu].
Teria. Por que teria? A Folha não viu isso ou está colocando panos quentes sobre esse discurso racista?

2 comentários:

Felipe Leal disse...

Colé, Cerqueira, o que é que legitimaria um discurso racista?
Hehe, tou esculhambando, entendi o que você quis dizer.
Outro risco é agora virem com aquela de diluir a questão num "vamos deixar de preconceito de ambos os lados, abracemos as árvores e sejamos todos iguais". Pra mim isso pode ser estimulado por manifestações como a da capa do Correio da Bahia: http://yfrog.com/2hd17mj.
Pode servir é pra fingir que pobres e ricos estão unidos. Tirando a diferença de visão política e/ou interesse quanto ao peso da intervenção do Estado. Essa questão eu tiro de uma análise que vi no blog de Nassif, mas não tou achando aqui.

O Chato dos Poemas disse...

Responsabilizarem de forma legal esta fulana, para mim, seria o mais LEGAL (no paulistano sentido desta palavra) de toda a história. Pois, estamos tratando de indivíduos provenientes desta sociedade burguesa, rica, emergente, futil e vazia dona da verdade no Brasil. Carente de exemplos vivos, de representações gráficas, de grandes mitos. Não esperem que possam travar, estes aí que xingam, um debate no nível das ideias ou de valor filosófico e sociológico. O fato é que a sociedade dominante brasileira, não sabe abstrair o pensamento, somente opera no concreto e pelo concreto, pensa da forma mais maniqueísta possível. Portanto, para que o falar mal de nordestino seja considerado como algo MAL e ERRADO, é preciso que se encontre um agente MAL para assumir a história. Que seja este boi de piranha (oh, desculpe, odeio o masculino genérico ) esta vaca de piranha!