A Sportv, da Globo, fez uma matéria inacreditavelmente infeliz sobre o Paraguai. Ouvi falar disso, mas pensei que tinham apenas dito algo como “o Paraguai só chama atenção por causa do decote de Larissa Riquelme” (aliás, é impressionante que desde o início se tratava de uma propaganda do celular). Mas não, é muito pior: o repórter chama o país de “paraíso obscuro do mundo”, ironiza Ciudad del Este, como se não tivéssemos nada a ver com tríplice fronteira, zomba da ausência de praias, da cozinha, da moeda… Nem uma cantora pop foi poupada. Um horror. E nem é engraçado.
Por um lado, mostra como o flerte do jornalismo esportivo com o humor corre o risco de recair em preconceitos e reforçá-los, o que é visível em todas as matérias engraçadinhas sobre carinhos entre jogadores. Com certeza, as brincadeiras são melhores que o histerismo raivoso das mesas redondas, mas a Globo, por exemplo, continua fazendo vista grossa às maracutaias do futebol. E aí perde a graça.
Por outro lado, a matéria bem pode ser uma amostra de que tem brasileiro já se achando... Até quando reclamaram de Lula pegar leve com a Bolívia quanto à Petrobras dava pra notar algo desse nariz empinado de novo-rico. É o velho perigo de ser centro da periferia. Já via um pouco isso em Salvador, quando pessoas do interior me diziam que os soteropolitanos eram metidos; e aqui em São Paulo, apesar das muitas exceções, é o que não falta.
Parece ter havido fortes reações no Paraguai. O La Nación publicou uma resposta forte, com esse belo trecho:
“Con Brasil eliminado ¿qué dirá ahora Sport TV de Globo? ¿Tendrá la suficiente humildad para la autocrítica, o seguirán con la hipocresía de vivir a espaldas de sus grandes problemas como el racismo, sus millones y millones de pobres, las matanzas, el tráfico de drogas en las favelas de Río de Janeiro y hacer creer siempre que Ciudad del Este es el oasis del contrabando cuando que es su gente la que mayor provecho saca del desorden en Triple Frontera?”
Abaixo, segue também a resposta da cantora citada, bastante lúcida, no que pude entender, e o pedido de desculpas da Sportv, o mínimo que poderiam ter feito depois da besteira.
2 comentários:
Algumas observações:
1. "Por um lado, mostra como o flerte do jornalismo esportivo com o humor corre o risco de recair em preconceitos e reforçá-los..."
Jornalistas expressando-se através do mais baixo denominador comum. Não me diga que isso é novidade para você.
2. "...dava pra notar algo desse nariz empinado de novo-rico. É o velho perigo de ser centro da periferia."
Achei que esse seria o tema central do post, mas você foi muito vago nesse trecho. Que tal elaborar um pouco melhor?
3. Por que será que estou com a impressão de que você é favor do aumento do repasse das tarifas de Itaipu para o Paraguai?
Até mais, Felipe!
1.Isso não é novidade, mas o contexto, um pouco: tem havido uma certa empolgação com um jornalismo esportivo mais descontraído, especialmente por conta do Globo Esporte de SP.
2.Tá vago mesmo. Fico devendo pra um outro post.
3.Nem tenho informações pra me posicionar, mas acho razoável que um país possa rediscutir contratos desse tipo. Mas claro que, no caso da Bolívia, nem era questão de me posicionar. Eu quis só comentar um certo clima de pensamento que pensei ter percebido.
Até!
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