Eu faço parte de um grupo bastante privilegiado, que nunca precisou entrar numa fila, de madrugada, para conseguir uma senha, ser atendido ou qualquer coisa do gênero. No entanto, eu consigo entender que aqueles que o fazem, o fazem por necessidade.
Menos compreensível é a fila em frente ao consulado americano. Minha entrevista estava marcada para as 7:30, mas, como sou ansioso, acabei chegando lá uma hora antes. E qual foi minha surpresa? A fila, imensa, já se estendia para fora do consulado.
Mas, sinceramente, isso foi o de menos. (Mesmo muito grande, ela andava com uma certa celeridade.) O pior era como os funcionários brasileiros do consulado nos tratavam. Não foram poucas as vezes que eu imaginei como será minha chegada aos EUA, como serei tratado pelos policiais americanos no aeroporto, coisas desse tipo. O que nunca sonhei era que teria uma prévia disso aqui mesmo.
Logo à minha frente na fila, ainda do lado de fora, estava uma família. Pelo que entendi, era a filha mais velha, uma menina de seus 14 anos, que iria tirar o visto. Ao chegar à porta do consulado, o pai foi barrado: somente um dos responsáveis poderia entrar para acompanhar a filha. O pai tentou argumentar, entraria apenas para ajudar a mulher com a filha mais nova: um bebê ainda de colo. A resposta da funcionária do consulado foi de uma grosseria sem tamanho: a mais velha era grande o suficiente para ajudar a mãe.
Lá dentro a situação não mudou. Depois da segunda fila, a da pré-entrevista, e antes da terceira, a das impressões digitais, as pessoas foram se sentando nos vários bancos que haviam por lá. Acontece que toda área à direita estava reservada para a quarta fila, a da entrevista propriamente dita. Pois bem, a funcionária responsável pela organização das filas, que não eram nada organizadas, não ficava atrás no quesito grosseria: “desocupem os bancos”, “saiam do meio do corredor”, “acompanhem a ordem da fila”… E os imperativos se multiplicavam.
O mais interessante disso tudo era a atitude de pessoas que, por nenhum outro motivo, se submeteriam a entrar numa fila de madrugada. Senhores envergando seus ternos; senhoras bem vestidas; adolescentes com suas calças de marca, todos, sem exceção, obedeciam às grosserias sem o menor sinal de revolta. Pessoas que, noutra situação qualquer, estariam bradando seus “você sabe com quem está falando?”, ou reclamando da incompetência do governo, incapaz de qualquer espécie de organização, essas pessoas se submetiam, sorridentes, a toda uma situação vexatória em busca de um visto para entrar nos EUA. E pra que? Segundo a senhora à minha frente, Miami é o lugar pra se comprar barato…
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