Wilson Gomes disse certa feita, no seu tuíter – imensamente recomendado –, que Fernando de Barros e Silva é seu colunista favorito na Folha. Não sei se posso interpretar favorito como melhor ou se se esse “na Folha” quer dizer que ele tem outros favoritos que escrevem em lugares diferentes. Mas, se me fosse permitido fazer todas essas estrapolações, eu, humildemente – mesmo não havendo dúvida que ele entende do assunto muito mais do que eu –, me veria obrigado a discordar.
Para mim, as terças e as quintas são os dias em que escrevem os dois mais lúcidos colunitas do país: Vladimir Safatle, na Folha, e Maria Inês Nassif, no Valor, respectivamente. (Uma nota: como os textos do Valor estão disponíveis apenas para assinantes, basta consultar o blogue de seu irmão, Luís Nassif, para ler sua coluna semanal.)
Mais interessante ainda é como os dois têm tocado, cada um a sua maneira, em um mesmo ponto: como a incapacidade de completar o luto do ciclo ditatorial tem afetado as bases sobre as quais construímos nossa idéia de democracia.
[T]rata-se neste artigo de discutir a seguinte tese, tão presente nos últimos meses nos principais meios de comunicação deste país: o esquecimento dos “excessos” do passado é o preço doloroso pago para garantir a estabilidade democrática.
Não se trata simplesmente de insistir na falsidade patente, na ausência completa de amparo histórico desta tese. Antes, trata-se de mostrar como ela, longe de ser a enunciação desapaixonada e realista daqueles que sabem defender a democracia possível, é apenas o sintoma discreto de uma profunda tendência totalitária da qual nossa sociedade nunca conseguiu se livrar. Por isto, a aceitação tácita desta tese é, na verdade, a verdadeira causa do caráter deformado e bloqueado de nossa democracia.
Um dos elementos que devem ser colocados na mesa, no debate sobre "refundação" de partidos e sobre reforma política, é o pré-conceito. Desde 1964, e devido à campanha ideológica que desaguou num golpe militar contra um regime democrático, forjou-se a convicção de que política e ética são incompatíveis; os políticos, em regra, são venais; e a política democrática favorece sempre poucos e os mesmos. É uma herança da velha UDN - que, ao mesmo tempo em que consolidava esse entendimento na sociedade, participava ativamente da vida eleitoral do país.
Para a ditadura militar, manter os políticos civis sob o senso comum da venalidade foi um grande negócio. Os eleitos nas urnas eram corruptos e não tinham compromisso com a sociedade brasileira; os militares que suprimiram o poder civil instituído pelo voto democrático eram os salvadores e saneadores da pátria - era esse o discurso do poder autoritário. Para manter apoio das classes médias e das elites brasileiras, todavia, o poder militar usou e abusou de uma estrutura partidária trazida dos partidos tradicionais sepultados pelo AI-2, que instituiu o bipartidarismo, em 1966. As forças políticas que se modernizavam devido à urbanização do país e à expansão de consciência de cidadania e direitos foram retiradas do mapa. Os políticos que viviam do cabresto, do dono de voto e da política tradicional sobreviveram. E o Executivo manteve o poder de coação sobre uns, e de manipulação dos outros.
Fica a dica.
Um comentário:
E Dilma manter Jobim no ministério é sinal forte de que a princípio não vai comprar a briga. Nesse sentido os soldados no morro do Alemão foram providenciais pra ele e, por tabela, pra tese de que Safatle fala.
Se isso não mudou com FHC, com Lula e não mudar com Dilma... aí é que vai ser "passagem desbotada na memória
das nossas novas gerações" mesmo.
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