19 de janeiro de 2011

A “lua de mel” da imprensa com Dilma

Reinaldo Azevedo tem repetido que anda pelos jornais uma onda pró-Dilma, criando uma imagem de gerente republicana e competente já bem distante daquela de Lula. O que não falta é motivo pra não levar o cara a sério (só Serra, talvez, via mais petismo na grande imprensa), mas de fato dá pra notar uma certa queda na má vontade geral quanto ao governo, e um exemplo disso pra mim foram comentários favoráveis à ida de Dilma às cidades atingidas pelas enchentes no Rio, como os de Eliana Cantanhede.

Vamos supor que está mesmo acontecendo uma lua de mel. Quais seriam os motivos? Eu tenho uns palpites.

- Com Dilma não tem mais aquele desconforto de deslocamento que a figura de Lula provocava estando no poder. Ela é mais discreta, respeita as liturgias do cargo, não fala “errado” e tem origem sócioeconômica que não causa estranhamento. Lula dava aquela ideia de que algo não estava no lugar onde deveria, o que naturalmente enseja a atuação normalizadora do jornalismo.

- A eleição foi dura, e é inegável um certo clima de distensão pós-eleitoral, somado com ares de férias e a tendência geral de falta de interesse pela política fora desses momentos de decisão.

- Boa parte da imprensa deve ter curtido os recados de aperto econômico dados pelo governo. Desde a primeira entrevista de Mantega, ficou claro que seria um ano de aperto. Pacificado o mercado, tudo fica mais relax nas redações (por que será, hein?).

- Durante a eleição, criou-se uma certa imagem de Dilma como inexperiente, passiva, puro produto de criação ex nihilo de Lula. Por mais que isso fosse evidentemente irreal, repetiu-se tanto que aparentemente os próprios inventores acabaram acreditando na historinha. E agora se surpreendem por o mundo não ser aquilo que, contra o mínimo de bom senso e inteligência, queriam em outro momento que ele fosse. Vai entender.

Fora o primeiro motivo, todos os outros são conjunturais. O certo clima de relaxamento vai passar junto com o carnaval. Se o aperto agora é elogiável e prudente, logo que se fizer sentir pela população pode ir pra conta do governo – e não esperemos aqui qualquer coerência. E, enfim, em pouco tempo passa o deslumbramento com o fato de Dilma não ser a criatura amorfa que se pensava – e aí, aliás, a imagem de stalinista pode voltar com força.

Além disso, mesmo a questão do não deslocamento tem suas nuances e limitações. Dilma, afinal, é mulher e ex-guerrilheira, o que não é fácil de engolir no Brasil. E a história de vida de Lula, apesar de toda carga de preconceito, impunha-se por sua força, e lhe criava uma certa blindagem, que Dilma não terá.

Conclusão parcial: se existe mesmo qualquer coisa parecida com uma lua de mel, será breve. Podemos nos preparar, que cedo ou tarde vão cair matando, e seguro. Pra animar na defesa de Dilma, já podemos contar com este que foi com certeza um dos melhores sinais do início de governo até agora: Reinaldo Azevedo está achando tudo uma porcaria, o que, covenhamos, só pode querer dizer que algo na direção certa está sendo feito.

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