É, o começo do segundo semestre chega mostrando que, como temia, vai ser difícil atualizar o blog. Pelo menos Rodrigo voltou. De todo jeito, caro 1,2 leitor semanal (contando eu), assine a “newsletter” ou nos siga no twitter, pra não perder seu tempo de vir aqui e não achar nada de novo – como dá pra ver que alguns fazem.
Bem, a Época saiu essa semana com a foto da ficha criminal de Dilma, prometendo revelar informações inconvenientes sobre seu passado terrorista. Não li e não gostei, até porque já deu pra ver mais ou menos do que se trata em mais um post memorável do NPTO. De toda forma, a crescente sensação da vitória do PT e o início de uma maior presença direta da candidata nos meios de comunicação vão plasmando melhor a imagem pública de Dilma.
Essa história da ex-terrorista é mais um ato de desespero da oposição, e pode até ter o efeito inverso do esperado. Uma das razões para isso é que contradiz a imagem de uma candidata pura criatura, criada ex nihilo por Lula para sucedê-lo. Faz algum sentido dizer que uma mulher que decidiu pegar em armas contra a ditadura militar brasileira tem potencial de marionete? É a mesma inconsistência da ideia de uma pessoa que maltrata os inferiores em relação ao papel de pau mandado, como bem notou a própria Dilma na entrevista ao JN. Em parte, é a própria novidade da figura no cenário eleitoral nacional que talvez permita essas oscilações, fora a usual falta de preocupação com a coerência por parte de certos discursos.
A tentativa de mostrar uma falta de valor próprio de Dilma revela, aliás, o quanto o governo Lula fez estragos na oposição. Se consideram que o presidente é capaz de eleger um poste pra sua sucessão, então Lula está bem próximo mesmo do Deus transcendente da Bíblia, que não encontra limites pra seu poder, manipula o jogo, os personagens e as regras. Aquele para o qual a matéria não oferece resistência nenhuma. O todo poderoso mesmo. O cara. Nesse caso, não deveriam criticar a sua pretensa mania de grandeza, pois são os primeiros a inflá-la.
De fato, Lula revela mais uma vez muita capacidade nessa eleição, e não só pelo fenômeno da transferência de voto de um governo espantosamente bem avaliado. Mas não porque teria feito de quem bem quis sua candidata, mas por ter antecipado possibilidades que demonstram seu tino político afiadíssimo. A escolha de Dilma, na verdade, não foi nada arbitrária, e sim inteiramente circunstanciada.
Pra mim o cenário foi mais ou menos assim: com o mensalão, a imagem do PT foi fortemente desgastada; pra completar, como o antigo partido vestal não inventou a roda na hora de fazer besteira, e sim repetiu tramóias em que os demais eram especialistas históricos, isso deu num desgaste ainda maior da classe, tipo “político nenhum presta mesmo”; tendo dado a marca do social ao primeiro governo, era necessário mostrar ao eleitor que havia algo mais a fazer, e isso era tirar o Brasil da estagnação econômica.
Ora, Dilma responde a todo esse contexto. Não tem ligação histórica com o PT, pois era filiada ao PDT. O fato de nunca ter disputado eleição, num cenário em que os profissionais nesse meio são os mais queimados, torna-se até positivo. Quanto menos você for escolado nessa sujeira toda, melhor. O perfil de funcionária técnica só complementa esse aspecto. Pra exorcizar ainda melhor a figura expiatória de José Dirceu, só mesmo se não tivesse lutado contra a ditadura. Por fim, identificada com o desenvolvimentismo e com a cobrança por resultados, era a pessoa certa para comandar a Casa Civil no segundo governo, e o PAC. Além disso, e não menos importante, dá a ideia de um avanço: como diz Marina, primeiro um sociólogo, depois um operário, e agora uma mulher (a diferença pra Dilma nesse sentido Marina garante com a especificação “de origem humilde”).
Lula sabe melhor que ninguém: política jamais pode ser a arte de ajustar a realidade a seus desejos. A escolha de Dilma evidentemente levou em conta sua fidelidade, mas esteve muito bem ancorada, como tem que estar, na situação histórica.
Essa lição, aliás, a oposição parece não ter aprendido. Em artigo na Folha de ontem, Eliana Cantanhêde empurra pra Aécio Neves parte da responsabilidade pela situação de Serra, que agora o Datafolha confirma como desesperadora. Por um lado, é São Paulo não admitindo perder sozinho por sua responsabilidade. Por outro, é arrogância pura da oposição achar que Dilma vai ganhar a eleição por conta desses ou daqueles deslizes, como se tudo dependesse de seus desejos e decisões.
Desculpa aí, mas a realidade histórica manda lembranças.
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